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ROMA, ITÁLIA (FOLHAPRESS) - Para os cardeais brasileiros presentes no Vaticano, o conclave que terá seu primeiro escrutínio na tarde desta quarta-feira (7) não será muito longo.
"No máximo quatro dias, estou imaginando", disse a jornalistas, em entrevista coletiva, dom Raymundo Damasceno, 88, arcebispo emérito de Aparecida. "Os cardeais já se reuniram, já expam suas opiniões, e hoje a mídia favorece o contato entre as pessoas", acrescentou, para explicar o palpite.
Porém, uma metáfora futebolística se aplica historicamente aos conclaves. "É uma caixa de surpresas, sem dúvida nenhuma", diz dom Raymundo, com a experiência de quem votou no último e presenciou outro bem mais antigo, o de 1963 (na época, era estudante de teologia em Roma). "O que atrai também, de certo modo, na eleição do papa é essa surpresa."
Os romanos têm um provérbio famoso para essas zebras em conclaves: "Chi entra papa esce cardinale". Quem entra papa sai cardeal.
Embora não possa votar desta vez, por já ter ultraado os 80 anos, dom Raymundo participou das reuniões preparatórias, as congregações gerais: "Foram muito ricas, em termos de informações, sobre a situação de cada cardeal, onde ele vive, onde atua."
Na medida do que pode revelar, ele descreve um ambiente cordial, em que os cardeais se apresentam e expõem suas ideias sem propor nomes diretamente. "As intervenções foram tranquilas, num clima muito fraterno, sem nenhuma tensão, nenhuma polêmica."
'Conclave': o que é real e o que é ficção em filme sobre escolha do papa?Divulgação
'Conclave': o que é real e o que é ficção em filme sobre escolha do papa?Filme Conclave
Após a morte do papa Francisco, o filme dirigido por Edward Berger, que foi indicado a oito Oscars, voltou aos cinemas e se tornou o mais visto da Prime VideoFilme Conclave
O longa mostra como os cardeais escolhem um novo papa, em meio a uma trama de mentiras e mistério. Mas o que é verdade e o que é ficção no filme?Filme Conclave
O filme acerta em muitos detalhes. Os cardeais chegam com suas malas de pernoite para iniciarem o processo e se hospedam na Domus Sanctae Marthae, a casa de hóspedes do Vaticano, com refeições comunitárias e o transporte de um ônibus.Filme Conclave
Os cardeais realmente ficam isolados e são proibidos de falar com qualquer pessoa de fora do processo, isso inclui notícias e mensagensFilme Conclave
Apenas cardeais abaixo dos 80 anos têm direito a votar neste processo. O conclave acontece na Capela Sistina, diante do "Juízo Final", de Michelangelo. O voto acontece em cédulas de papel, que são queimadas após serem contadas.Filme Conclave
As rodadas de votação acontecem até que um candidato obtenha dois terços dos votos. A fumaça branca na chaminé acima da Capela Sistina só aparece quando um novo papa é eleitoAFP
O filme também mostra os juramentos feitos pelos cardeais antes da votação, o uso de produtos químicos para garantir a cor correta da fumaça que sai da chaminé para indicar o resultado, e a varredura da Capela Sistina em busca de dispositivos de escuta.Filme Conclave
O filme também acerta ao mostrar a tensão política e as divisões ideológicas entre os cardeais, com disputas entre alas conservadoras e progressistasFilme Conclave
No entanto, alguns detalhes são ficção, como a disposição das mesas na Capela Sistina e a forma como os cardeais se dirigem uns aos outrosAFP / Filme Conclave
Outro erro seria a participação de um cardeal "in pectore" – o cardeal secreto que aparece no conclave. Na vida real, ele só poderia participar da votação se o papa revelasse seu nome antes de morrerFilme Conclave
Outros elementos são as reviravoltas dramáticas e revelações pessoais, que são invenções que fazem a história ficar mais interessante.Filme Conclave
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Durante as congregações, os cardeais fazem intervenções breves, por dez minutos, em média, com tradução simultânea em seis idiomas. Algumas, segundo dom Raymundo, causaram forte impressão, como as dos cardeais italianos Pietro Parolin, Matteo Zuppi e Pierbattista Pizzaballa. Ele observa ainda a expansão do cardinalato, promovida por Francisco, "às periferias do mundo". "Timor Leste, Mongólia... na Mongólia só tem 1.500 católicos. Ele [o cardeal italiano Giorgio Marengo] pode conhecer pessoalmente cada um."
Entre as tendências que chamaram a atenção dos cardeais nos últimos dias, está o grande número de adultos que procuraram o batismo na França e na Bélgica, na última Páscoa. "Foram mais de 12 mil. É interessante observar que o número está crescendo", diz o arcebispo emérito.
Para dom Raymundo, porém, isso não aumenta necessariamente a chance de um cardeal de um desses países ser escolhido para suceder Francisco.
A reclusão na Casa Santa Marta, conta, é propícia à reflexão: "Ali é um ambiente muito tranquilo. As refeições, à mesa, todo mundo vai aonde quer, conversa com quem quer. Mas geralmente não há eios, não há palestras, nada, não há pressão de grupo nenhum, uma conversa normal. Pode ser que alguém pergunte a um cardeal o parecer sobre um candidato, mas tudo muito discretamente. Nada de movimento, é um ambiente mais de silêncio."
Um dos momentos mais impactantes ocorre na Capela Sistina, quando os cardeais fazem o juramento diante do afresco do Juízo Final, produzido entre 1536 e 1541 por Michelangelo. "Você está ali, diante daquele juízo que vai acontecer a cada um de nós no final da vida. E o cardeal está fazendo o seu juramento diante, justamente, do próprio Cristo", descreve Damasceno.
Isso gera, segundo ele, uma profunda responsabilidade: "O que está movendo o seu voto? São interesses? São simpatias? Ou é o bem da Igreja? O bem da humanidade?"
No primeiro escrutínio de um conclave, segundo dom Raymundo, é comum os votos serem mais dispersos entre os cardeais. Alguns eleitores aproveitam a ocasião para homenagear cardeais sem chance de vitória. Na votação seguinte, aumenta a concentração nos nomes mais fortes.
Aficionado por filmes sobre papas, dom Raymundo conta que quer assistir ao recente "Conclave", de Edward Berger, ficção sobre os bastidores da eleição de um papa, criticada por alguns vaticanólogos por supostas imprecisões.
Em uma cena do longa, um cardeal diz a outro que todos têm um "nome de papa" na cabeça. De sua parte, dom Raymundo nega. "Nem pensei nisso. Se você está querendo ter um nome, está querendo ser papa. E ninguém quer ser papa. Quem quer ser é porque não tem consciência da missão."
A vaidade, para o arcebispo, desqualifica o papável.
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